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Patrícia Gagliardi
Patrícia Gagliardi24/07/2025 14:02
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Seu Aplicativo com IA é Seguro? Um Guia Completo para a Proteção de Dados que Alimentam a IA

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Você usa IA em seu aplicativo? Sabe como protegê-lo de manipulação de dados externos?

Olá, comunidade!

A Inteligência Artificial (IA) já não é mais uma promessa futura; é uma realidade que impulsiona a inovação em praticamente todos os setores. No entanto, enquanto nos maravilhamos com as capacidades dos modelos de IA, uma questão fundamental muitas vezes fica em segundo plano: a segurança dos dados que os alimentam.

Um documento, elaborado pelas agências de cibersegurança: AISC, NSA, CISA,FBI, ACSC, NCSC-Z e NCSC-UK,, lança uma luz sobre este tema crítico. O documento, intitulado "AI Data Security - Best Practices for Securing Data Used to Train & Operate AI Systems", serve como um guia essencial para proteger os dados em todo o ciclo de vida da IA. Este artigo destila as principais lições desse relatório para nós, profissionais de TI, desde o estagiário curioso até o arquiteto sênior.

A Segurança de Dados em Cada Etapa do Ciclo de Vida da IA

A segurança de dados em IA não é um passo isolado, mas uma disciplina contínua que permeia todo o ciclo de vida de um sistema de IA. Um invasor que consegue manipular os dados pode, efetivamente, manipular a lógica do seu modelo.

O framework de manejo de riscos de uma IA, de acordo com o definido pelo NIST (AI-RFM) divide o ciclo de vida em seis fases principais, cada uma com focos de segurança específicos:

  1. Planejamento e Desenho (Plan & Design): A segurança começa aqui, incorporando protocolos robustos e modelagem de ameaças desde o início.
  2. Coleta e Processamento de Dados (Collect & Process Data): Foco em garantir a integridade, autenticidade e o controle de acesso dos dados coletados.
  3. Construção e Uso do Modelo (Build & Use Model): Proteger os dados contra manipulação durante o treinamento e garantir a privacidade das informações.
  4. Verificação e Validação (Verify & Validate): Realizar testes de segurança abrangentes para identificar e mitigar riscos, incluindo testes adversariais.
  5. Implantação e Uso (Deploy & Use): Implementar controles de acesso rigorosos, como uma infraestrutura de confiança zero (Zero Trust), e monitorar comportamentos anômalos.
  6. Operação e Monitoramento (Operate & Monitor): Conduzir avaliações de risco contínuas e ter um plano de resposta a incidentes para se adaptar a ameaças emergentes.

10 Melhores Práticas Essenciais para Proteger Dados de IA

O relatório fornece um checklist prático que toda organização deveria considerar. Aqui estão as dez principais recomendações:

  1. Use Fontes Confiáveis e Rastreie a Proveniência dos Dados: Sempre que possível, utilize dados de fontes autorizadas. Implemente um sistema para rastrear a origem e o caminho que os dados percorrem no sistema de IA, de preferência usando um banco de dados de proveniência seguro e assinado criptograficamente.
  2. Verifique a Integridade dos Dados: Use checksums e hashes criptográficos para garantir que os dados não foram alterados durante o armazenamento ou transporte.
  3. Utilize Assinaturas Digitais: Adote padrões de assinatura digital, preferencialmente resistentes à computação quântica, para autenticar revisões de dados usados no treinamento e ajuste fino dos modelos.
  4. Aproveite uma Infraestrutura Confiável: Processe dados em um ambiente de computação seguro, que utilize uma arquitetura de Confiança Zero (Zero Trust) para isolar operações sensíveis e proteger a privacidade.
  5. Classifique Dados e Use Controles de Acesso: Categorize os dados com base em sua sensibilidade para aplicar os controles de segurança apropriados. A classificação da saída de um sistema de IA deve, em geral, ser a mesma que a dos dados de entrada.
  6. Criptografe os Dados: Adote protocolos de criptografia avançados para dados em repouso, em trânsito e em processamento. O padrão AES-256 é considerado o padrão da indústria e resistente a ameaças quânticas.
  7. Armazene os Dados de Forma Segura: Utilize dispositivos de armazenamento certificados que sigam o padrão NIST FIPS 140-3, garantindo alta segurança contra tentativas de intrusão.
  8. Adote Técnicas de Preservação de Privacidade: Quando viável, utilize técnicas como data masking (mascaramento de dados), privacidade diferencial, e aprendizado federado 24 para treinar modelos sem expor informações sensíveis.
  9. Exclua os Dados com Segurança: Antes de descartar ou reutilizar mídias de armazenamento, utilize métodos de exclusão segura, como a eliminação criptográfica, para garantir que os dados não possam ser recuperados.
  10. Conduza Avaliações de Risco Contínuas: Avalie regularmente o cenário de segurança de dados da IA usando frameworks padrão, como os do NIST, para identificar riscos e priorizar ações.

Os 3 Grandes Riscos: Supply Chain, Data Poisoning e Data Drift

O documento detalha três áreas de risco significativas que merecem nossa atenção:

  • Cadeia de Suprimentos de Dados (Data Supply Chain): O risco aqui vem do uso de dados de terceiros ou de datasets em grande escala (web-scale). Esses dados podem conter imprecisões ou material malicioso. Técnicas de ataque como

split-view poisoning (onde domínios expirados que hospedam dados são comprados por atacantes) e

rontrunning poisoning (injeção de dados maliciosos pouco antes de um snapshot programado de um banco de dados, como o da Wikipedia) são ameaças práticas e de baixo custo.

  • Mitigação: Verificar datasets antes da ingestão, usar credenciais de conteúdo para rastrear a proveniência, exigir certificações dos provedores de dados e modelos, e usar hashes para verificar a integridade dos dados brutos.
  • Dados Maliciosamente Modificados (Data Poisoning): Refere-se à manipulação deliberada de dados para corromper o processo de aprendizado e comprometer a integridade do modelo. Isso inclui ameaças de aprendizado de máquina adversário (Adversarial Machine Learning), vieses estatísticos, e a inserção de informações imprecisas.
  • Mitigação: Implementar detecção de anomalias, sanitizar os dados regularmente, auditar os dados de treinamento para vieses, e aumentar a quantidade de dados não maliciosos para "afogar" as amostras envenenadas.
  • Desvio de Dados (Data Drift): É a degradação natural e esperada do desempenho de um modelo ao longo do tempo, pois os dados do mundo real mudam e se tornam diferentes dos dados de treinamento originais. É crucial distinguir o data drift, que geralmente é gradual, de um ataque de data poisoning, que costuma ser abrupto e dramático.
  • Mitigação: Monitorar continuamente as entradas e saídas do sistema de IA, usar métodos estatísticos para comparar a distribuição dos dados atuais com os de treinamento, e incorporar o retreinamento regular do modelo com dados recentes.

Conclusão

A segurança de dados não é apenas um "nice-to-have" em projetos de IA; é um pilar fundamental que garante a precisão, a confiabilidade e a integridade dos resultados. Ignorar essas práticas pode levar a modelos comprometidos, vazamento de dados e perda de confiança.

Ao adotar uma postura proativa, desde o planejamento até a operação, podemos construir sistemas de IA mais robustos e seguros, protegendo os dados críticos que são a força vital dessas tecnologias.

Link para acesso ao documento: AI Data Security: Best Practices for Securing Data Used to Train & Operate AI Systems | CISA

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Comentários (1)
DIO Community
DIO Community - 24/07/2025 15:42

Excelente contribuição, Patrícia. A forma como você condensou as recomendações das principais agências globais de cibersegurança em um guia prático eleva o debate sobre proteção de dados em IA a um patamar essencial, especialmente em um momento em que a adoção da inteligência artificial dispara, muitas vezes sem a devida maturidade em segurança da informação.

O destaque para a visão de segurança como disciplina transversal ao ciclo de vida da IA reforça um ponto crítico que muitas equipes negligenciam: o dado não é só insumo técnico, mas ativo estratégico e vetor de risco. A contextualização dos três grandes riscos (data poisoning, data drift e supply chain) com exemplos como split-view poisoning e front-running poisoning torna o alerta ainda mais tangível.

Uma reflexão que surge é: como as equipes que trabalham com IA em startups ou ambientes de recursos mais limitados podem começar a implementar essas boas práticas de forma progressiva e viável? Você teria sugestões de primeiros passos que conciliem segurança com velocidade de entrega nos ciclos ágeis de desenvolvimento de produtos com IA?