Carlos Lima
Carlos Lima14/01/2025 16:29
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Porque você não vai ler este artigo até o final

  • #Python
  • #Inteligência Artificial (IA)

Ninguém questionaria ou costuma questionar a máxima. “a pressa é inimiga da perfeição”. Isto me faz pensar que a nossa sociedade moderna vive um conundrum, porque ao mesmo tempo em que acredita nisto, nos movemos cada vez mais rápido (fisicamente e figurativamente).

Quando foi a última vez que ouviu um áudio que não seja no “2x”, ou assistiu um filme inteiro sem checar o celular dezenas de vezes no processo, antes de desistir dele porque ficou entediado. Ou quem sabe, qual foi a última vez que leu algum artigo nesta plataforma até o final e aprendeu a valiosa lição que o texto tinha para lhe ensinar?

Viver desta maneira automática, não parece saudável, muito menos plausível, o impacto disso pode também afetar a nossa capacidade de foco e aprendizado. 

Estamos cada vez mais rápidos e estamos consumindo conteúdos cada vez mais curtos, chegou o momento de reavaliar o impacto disso em nossos estudos.


O estudo que vale a pena

Existe uma clara distinção entre o estudo valioso e que lhe trará bons frutos e aquele superficial fácil e que te fará acreditar que compreendeu tudo perfeitamente. Em seu livro “Make It Stick” o professor Peter C. Brown chama este fenômeno de “ilusão do conhecimento”.

Em contraste a estudos e textos superficiais há materiais elaborados, que precisam de paciência e foco para que sejam consumidos. Para masterizar o material um precisa fazer as pazes com o estresse ou ter a disciplina para parar e voltar em outro momento quando estiver menos estressado. A professora Barbara Oakley em seu livro, “Aprendendo a Aprender”, diz que a mente humana funciona de dois modos, um modo focado e um difuso. O focado ajuda a entender o problema, o difuso funciona quando não percebemos. Sabe aquela resposta, que vem no banho, sem razão nenhuma. Pois é. Ou seja, o conhecimento e o estudo que ficam, requer que seja apreciado lentamente.

Se estamos cada vez mais rápidos, correndo tanto quanto podemos. Haverá tempo para tal coisa? Em um texto publicado no X, Andrej Karpathy afirma que vivemos a era da “Tik Tokização” dos conteúdos. Conceitos complexos são exprimidos em vídeos de 30 segundos ou às vezes menos. Não é de todo ruim, sintetizar conhecimento é uma habilidade importante. O questionamento que fica é, você realmente acha que será capaz de entender o que é uma CNNs ou uma RNNs com apenas 30 segundos de vídeo? Me parece bom demais para ser verdade. Porque é. Não é desta forma que aprendemos, não é desta forma que o conhecimento fica.

Cama não é lugar de estudar

Você não deveria estudar onde você dorme, isso mesmo, estudar na cama é uma péssima idéia, do mesmo modo, separe os momentos de estudos sérios (vídeos longos, livros, anotações, repetição espaçada) dos momentos de distração (vídeos educativos no Instagram, Tik Tok ou YouTube). Não tem problema consumir, a pergunta que você precisa fazer no entanto é se aquele momento é de estudos ou de distração. Se for distração, nunca reclame o porquê de não entender o conceito, apenas vá e estude de verdade.

Conclusão

Parabéns, você chegou até aqui! Este ensaio é um apelo pelo consumo de conteúdos longos e que exigem atenção. Cultivar essa habilidade te fará estudar melhor, como afirma o professor Carl Newport, o foco se tornou uma habilidade fundamental, no mercado de trabalho, já que muitos esqueceram como fazer isto. Assuma com você mesmo o compromisso de se aprofundar em suas leituras, de que quando for estudar será de fato para estudar e o seu celular pode esperar durante o tempo no qual estiver fazendo isto. Esteja em uma constante postura de contemplação da sua finitude. Em seu livro “Four Thousand Weeks” o escritor e jornalista Oliver Burkeman nos lembra de algo cruel mas verdadeiro, temos apenas 4 mil semanas de vida, se vivermos até os oitenta anos, nesse sentido, porque a pressa?

Blogs, Vídeos e Artigos Mencionados

  • Deep Work: https://www.amazon.com/Deep-Work-Focused-Success-Distracted/dp/1455586692
  • Make It Stick: https://www.retrievalpractice.org/make-it-stick
  • Aprendendo a Aprender: https://www.amazon.com.br/Aprendendo-Aprender-Matem%C3%A1tica-Ci%C3%AAncias-Qualquer/dp/8586622451
  • Learning isn't supposed to be fun: https://x.com/karpathy/status/1756380066580455557?lang=fr
  • Four Thousand Weeks: https://www.amazon.com/Four-Thousand-Weeks-Management-Mortals/dp/0374159122

Nota do autor

  • Seja paciente sobre possíveis erros gramaticais, a julgar pela recorrência deles você sabe o quanto eu usei o ChatGPT ou qualquer outra ferramenta para escrever o mesmo.
  • Este trabalho levou tempo para ser pesquisado e filtrado, escrever é uma tarefa nobre e árdua. Se sentir confortável, deixe seu feedback (construtivo).
  • Em caso de dúvidas, deixe nos comentários abaixo (farei o possível para responder a tempo).
  • Obrigado ao Fernando por mencionar a versão em pt-br do livro da Barbara Oakley.

Você também pode me encontrar aqui, ou me seguir na DIO para conteúdo dessa natureza:

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Comentários (4)
Fernando Araujo
Fernando Araujo - 15/01/2025 10:03

EU LI ATÉ O FINAL!!! :-)

Ótimo artigo, Carlos!!!! Parabéns!!! Concordo com tudo o que você disse e assino embaixo!

Eu costumo escrever artigos longos aqui e sei que boa parte dos leitores não tem paciência de lê-los até o fim, mesmo que eles tratem detalhadamente de temas fundamentais e completos. Escrever um artigo sobre Matrizes, Funções ou Bancos de Dados exige muitos detalhes essenciais, senão eles ficam superficiais. É preciso que eles sejam longos para serem considerados úteis para o aprendizado!

Como sugestão, para atingir os mais novos na área (que não têm prática de leitura em inglês), acho que você deveria informar que o livro "A Mind for Numbers...", de Barbara Oakley, foi lançado em português com o título "Aprendendo a Aprender", e que ele é a base para o curso gratuito dela no Coursera, com o mesmo nome, o qual eu recomendo fortemente!

Sobre aprendizado, eu já escrevi vários artigos aqui, segue a lista:

Artigo 33 - É ensinando que se aprende

Artigo 42 - Você sabe aprender? Aprenda agora!

Artigo 48 - Você sabe estudar? Tem certeza?

Artigo 50 – Mude sua mente e faça sua transição de carreira

Carlos Lima
Carlos Lima - 15/01/2025 12:19

@Lyniker Oliveira Grato o tempo que dedicou a ler o artigo. Olha, escrever e falar sobre é um bom começo. O estudo que transformar não é necessariamente divertido (como afirmar Andrej), então temos que nos habituar a ele, acredito que estamos todos fazendo a nossa parte, quando escrevemos.


@Fernando Araujo. Excelente, aceito os parabéns mas estou apenas compartilhando pensamentos com base na minha experiência. Certamente vou ler seus artigos, forte abraço.

ps.: Grato pela sugestão, geralmente eu leio o livro em EN até para manter o idioma em dia e compreendo, artigos mais elaborados tem pouco alcance, a minha motivação mesmo é aprender através desses momentos. Richard Bach disse uma vez, "O que você mais precisa ensinar é o que melhor aprende".


Quenã Abbady
Quenã Abbady - 14/01/2025 21:35

Muito bom texto.👍🏻

Lyniker DIO
Lyniker DIO - 14/01/2025 16:46

Que artigo incrível e necessário! Você conseguiu abordar de forma brilhante um tema tão relevante nos dias de hoje: a importância de desacelerar e valorizar conteúdos longos e profundos, que realmente contribuem para o aprendizado significativo. Vivemos em uma era onde o imediatismo domina, e é fácil se perder em conteúdos curtos que apenas satisfazem momentaneamente, mas não agregam valor duradouro ao nosso conhecimento.

Seu texto me lembra que aprender de verdade exige paciência, foco e dedicação. É um convite para repensarmos nossos hábitos e darmos espaço para o aprendizado que fica, aquele que transforma. Parabéns pelo trabalho e pela dedicação em trazer reflexões tão importantes! Continue com os artigos, você é inspiração!

Mas e aí, como você acha que podemos incentivar mais pessoas a adotarem essa postura de aprendizado profundo?