Minority Report da vida real: Algoritimo americano promete prever crimes com 90% de eficácia
Como bem já dizia Oscar Wilde: "A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida."
Uma das mais fantásticas histórias já produzidas pela ficção (o filme Minority Report, de 2002, com direção de Steven Spielberg) parecia apenas fantasia a alguns meses atrás.
Mas de acordo com Cientistas da Universidade de Chicago, já é possível prever crimes antes que eles aconteçam, como vimos no longa de Spielberg, e com 90% de eficácia e uma semana de antecedência.
É fato que esse algoritmo, denominado de Cynet, consegue apenas prever quando um crime será cometido, e não quem o cometerá, como acontece com o sistema visto no longa.
Enquanto no filme a predição dos crimes se baseia nas visões, sentidos e emoções dos 3 sensitivos, na vida real, o Cynet é um pouco mais complexo.
Ele combina dados e localizações de crimes já cometidos, analisando hora, local, tipo de crime, dentre outros milhões de dados combinados, e assim consegue identificar padrões e então "prever" com grande probabilidade que um crime irá acontecer.
E os cientistas desenvolvedores do algoritmo ainda garantem a precisão da localização de onde o crime será cometido. Isso porque o Cynet divide a localidade ou bairro em "células" de até 300 m² em média.
Assim, ele consegue prever quando, a que horas e em qual quadra de um bairro um crime será cometido, por exemplo.
Essa não é a primeira tentativa dos americanos de tentar prever crimes usando a tecnologia. Em 2012, também em Chicago, se iniciou um programa que levava em consideração fatores como idade e passagens pela polícia, e criava uma lista com potenciais agressores.
A experiência, porém, não deu muito certo. Após vários equívocos sobre pessoas que eram incluídas nessa lista. Várias delas sequer tinham passagens pela polícia ou histórico de agressões ou porte de armas.
Graças a isso, o programa que levava o nome de "Modelo de Risco de Crime e Vitimização", e era uma parceria entre o departamento de polícia de Chicago e do Instituto de Tecnologia de Illinois foi descontinuado em 2020.
A grande falha desse sistema foi, segundo especialistas, deixar de lado fatores que englobam a complexidade urbana e o ambiente social que ela está inserida.
Por exemplo: fatores como diferenças entre raças, preconceito e posições sócio-econômicas eram deixadas de lado. Já o Cynet é municiado com milhões de dados que incluem também estes aspectos urbanos.
Segundo James Evans, sociólogo e co-autor do projeto, “As redes de transporte, por exemplo, respeitam limites físicos: ruas, passarelas, linhas de trem e ônibus. Já as redes de comunicação respeitam áreas de contexto socioeconômico semelhantes. Nosso modelo permite a descoberta destas conexões."
Especialistas também apontaram que a ação policial tende a ser mais ostensiva e eficaz em áreas mais ricas. O Cynet evidenciou que bairros mais ricos recebem mais ações e recursos da polícia, enquanto bairros mais pobres recebem atenção bem abaixo do esperado.
O que não deixa de ser curioso, já que geralmente a criminalidade tende a se concentrar mais nos locais mais pobres.
Os autores do projeto afirmam que a grande finalidade do Cynet é "prever" para prevenir, e não punir preventivamente, de forma arbitrária, como mostrado no longa de Spielberg.
Eles afirmam que o Cynet pode ser uma ferramenta muito útil se usada junto com políticas de combate à criminalidade.
Para quem é desenvolvedor e tem curiosidade de saber como o programa funciona, há um protótipo de código aberto hospedado no GitHub.
Fonte: Superinteressante.