Inteligência artificial e seu impacto no meio ambiente: Um desafio que não pode ser ignorado
🤖A popularização da inteligência artificial representa um marco sem precedentes na trajetória da produtividade humana. Assim como a descoberta do fogo, a invenção da roda, o domínio dos metais, a criação da pólvora, a eletricidade, o advento do computador e a ascensão da internet, o desenvolvimento de diversos modelos de IA marca um ponto de inflexão que está transformando, e continuará a transformar, os alicerces da sociedade em todos os seus aspectos. Contudo, como ocorre com cada avanço significativo da tecnologia, a implementação da IA, em todas as suas modalidades, não trouxe apenas vantagens. Este ponto se torna evidente quando direcionamos nosso olhar para as implicações ambientais.
💻Para compreender melhor essa questão, é importante saber que grande parte das inteligências artificiais depende de um processamento intenso de dados, realizado em instalações de grande porte conhecidas como datacenters. Esses centros são responsáveis pelo armazenamento e processamento de dados que sustentam motores de busca, plataformas de e-commerce e sistemas financeiros que utilizamos diariamente. Há 10 anos atrás, os datacenters que consumiam até 30 megawatts por dia em sua operação eram considerados grandes. Hoje, instalações de 300 megawatts são consideradas o padrão, enquanto datacenters que operam com 1 gigawatt estão se tornando frequentes. Para termos uma maior noção desse nível de consumo, cidades de médio porte, como Uberlândia (MG) e Joinville (SC), com uma população entre 500 e 700 mil habitantes, possuem o consumo médio 300 MW por dia, já 1 GW/dia é facilmente consumido em capitais e regiões metropolitanas no Brasil.
⚡Esse aumento expressivo no consumo de energia pelos datacenters é consequência direta da contínua expansão dos provedores de serviços em nuvem e da transformação impulsionada pela Inteligência Artificial (IA). Por sua própria natureza, a IA exige significativamente mais capacidade de processamento em comparação às operações tradicionais de computação em nuvem. Estudos indicam que uma consulta média de IA consome cerca de 10 vezes mais energia elétrica do que uma busca comum na internet. Nesse contexto, a Agência Internacional de Energia (AIE), em um estudo publicado em janeiro deste ano, projetou que o consumo de energia em centros de processamento de dados ao redor do mundo, que totalizou 460 terawatt-hora (TWh) em 2022, pode alcançar impressionantes 1.050 TWh até 2026, impulsionado pelo avanço da IA. Esse volume é equivalente ao consumo anual do japão e ao dobro da energia que o Brasil consome em um ano, estimada em cerca de 500 TWh. Neste ritmo de crescimento, o consumo de energia dos datacenters, que hoje equivale a cerca de 1% do consumo global, atingirá o percentual de 4,5% até 2030.
🌊Além do consumo de energia elétrica, é fundamental destacar que os datacenters também utilizam água no processamento de dados. Este recurso natural limitado é empregado não apenas na geração de energia, mas também para o resfriamento dos servidores. Um estudo realizado por pesquisadores da University of Colorado Riverside e da University of Texas Arlington, nos EUA, revelou que em uma conversa com um chatbot de IA que envolva entre 20 e 50 perguntas, cerca de 500 ml de água são consumidos. Neste contexto, os pesquisadores acreditam que ao treinar o GPT-3, a OpenAI pode ter consumido incríveis 700.000 litros de água, e muito mais no treinamento de seu modelo mais avançado, o GPT-4. Nesse ritmo, segundo o relatório da Comissão Global sobre Economia da Água, a demanda dos datacenters por água deve ultrapassar o fornecimento de água doce em 40 por cento até o final desta década.
🤯Diante de todas essas considerações, é evidente que a revolução proporcionada pela inteligência artificial traz consigo grandes desafios. Embora a IA tenha o potencial de impulsionar a produtividade e transformar diversos setores da sociedade, a crescente demanda por recursos naturais proveniente do processamento intenso de dados é um fator que deve urgentemente ser discutido e gerenciado pelas autoridades globais. À medida que avançamos rumo a um futuro, é crucial que busquemos soluções sustentáveis que equilibrem os benefícios da tecnologia com a responsabilidade ambiental. Somente assim poderemos garantir que a evolução tecnológica não comprometa nossos recursos, promovendo um desenvolvimento que seja verdadeiramente sustentável para as gerações futuras.