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Luciano Filho08/07/2025 03:05
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Espaço, território, paisagem e código: como a programação está redesenhando meu mapa profissional

  • #Java
  • #Python

Sou geógrafo. Por mais de 15 anos, caminhei entre mapas, veredas, vales e planícies, avancei para satélites, sensores e bandas, territórios esquecidos e planos de desenvolvimento sustentável. Vivi de perto o poder que a informação geoespacial tem de transformar realidades. Mas, em algum ponto dessa caminhada, percebi que os mapas que eu tanto trabalhava para aprimorar já não davam conta da velocidade do mundo. Precisava mais. Precisava escalar. Foi aí que a programação entrou no meu caminho.

E como tudo que muda a nossa vida de verdade, ela não chegou fazendo confusão, barulho, mas com um convite silencioso: “E se você aprendesse a conversar com as máquinas, do seu jeito?”

Quando o saber técnico precisa avançar, evoluir, acompanhar o tempo?

Quem já atuou com geotecnologia, licenciamento ambiental ou regularização fundiária sabe do que estou falando. São muitos dados, sistemas que não conversam, cruzamentos manuais e decisões importantes que acabam sendo tomadas na base da intuição — quando poderiam ser orientadas por análise automatizada, indicadores, mapas inteligentes.

Lembro de um projeto em que precisei analisar milhares de propriedades rurais com sobreposição em áreas de preservação permanente. O volume de informações era imenso. Eu tinha técnica, mas faltava ferramenta. O GIS ajudava, mas o processo ainda era lento e dependente demais da intervenção humana.

Foi aí que percebi: a geografia precisava mudar, like a rolling stones — e eu também.

Python, Java e o rolar - pedra que rola não cria musgo - e eu precisava rolar para novas possibilidades

Comecei pelo Python. Pela simplicidade, pela comunidade acolhedora e pela capacidade incrível de lidar com dados espaciais. Pandas, GeoPandas, Folium, Shapely... cada biblioteca era uma chave que abria uma nova porta.

Mas não parei aí. Descobri que o Java, com sua robustez e escalabilidade, podia ser o motor de aplicações mais complexas, voltadas a governos, empresas e sistemas críticos. Não se trata de “escolher um lado”, mas de reconhecer o poder de cada linguagem conforme a necessidade do projeto.

Em Python, construí scripts que automatizam relatórios ambientais, validam coordenadas, geram mapas interativos e ajudam comunidades a entenderem melhor o espaço que habitam. Em Java, vislumbro back-ends sólidos para plataformas de regularização fundiária, dashboards em tempo real e APIs que podem conectar minha experiência territorial a soluções de larga escala.

Quando o território encontra o algoritmo

A programação, para mim, não é um fim — é uma ferramenta para potencializar meu propósito: transformar territórios e gerar impacto real.

Hoje, com uma bagagem construída em campo e a curiosidade acesa por algoritmos, vislumbro projetos que antes pareciam distantes:

  • Aplicativos de mapeamento participativo em comunidades vulneráveis;
  • Plataformas de planejamento urbano com inteligência geográfica;
  • Ferramentas que cruzam dados ambientais e jurídicos para destravar processos fundiários;
  • Sistemas que ajudam gestores a tomar decisões com base em dados reais — e não apenas em promessas de campanhas.

Um exemplo prático: do campo ao relatório, com algumas linhas de código

Um dos projetos em andamento é a criação de um aplicativo mobile para coleta de dados geográficos e ambientais no campo, com suporte offline. O objetivo é simples e poderoso: permitir que técnicos, geógrafos e analistas possam registrar informações em campo, mesmo sem sinal, e sincronizar tudo depois — gerando mapas, tabelas e relatórios automaticamente.

Em Python, por exemplo, já estou construindo o primeiro protótipo do módulo de geração automática de relatórios, a partir dos dados coletados em JSON ou CSV. Veja um exemplo inicial:

Nem só de mapas vive o geógrafo

Aprender a programar não me fez abandonar os mapas. Muito pelo contrário: me deu novos olhos para olhar o mundo, novas mãos para transformá-lo e novas ideias para oferecê-lo a quem precisa.

Se você, assim como eu, vem de uma área técnica, mas sente que pode mais, não espere um convite formal. Comece hoje. Aprenda um pouco de Python. Dê uma olhada em Java. Vá além dos tutoriais. Pergunte a si mesmo: como essa linguagem pode resolver um problema que eu já enfrentei na vida real?

A resposta pode não vir no primeiro “Hello, World”. Mas ela virá. E quando vier, não será só código: será a ponte entre o que você sabe fazer e o que o mundo precisa de você.

import pandas as pd

from fpdf import FPDF

# Carrega os dados coletados no campo (CSV exportado pelo app)

df = pd.read_csv("dados_coleta.csv")

# Cria um PDF simples com os dados

class PDF(FPDF):

  def header(self):

    self.set_font('Arial', 'B', 14)

    self.cell(0, 10, 'Relatório Técnico de Campo', ln=True, align='C')

  def footer(self):

    self.set_y(-15)

    self.set_font('Arial', 'I', 8)

    self.cell(0, 10, f'Página {self.page_no()}', 0, 0, 'C')

pdf = PDF()

pdf.add_page()

pdf.set_font("Arial", size=12)

for index, row in df.iterrows():

  pdf.cell(0, 10, f"ID: {row['ID']} - Latitude: {row['Lat']} - Longitude: {row['Lon']} - Observação: {row['Obs']}", ln=True)

pdf.output("relatorio_tecnico.pdf")

Sobre o autor

Luciano FDS Paula — Geógrafo, consultor e empreendedor. Fundador da Geossistemas Consultoria, atua há mais de 15 anos com geotecnologia, sustentabilidade e inovação. Está aprendendo a programar para redesenhar os mapas do futuro.

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