Desafios da evolução tecnológica: Sabemos usar um computador?
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Um dos maiores desafios para o mundo da tecnologia, é que as pessoas desse ramo não representam o consumidor final da aplicação. Muitas vezes, por preferências pessoais, somos orientados a entregar um produto de uma maneira, porém confiar nessas preferências pode ser a melhor opção.
Existe uma grande distância entre usar e saber realmente utilizar um computador. Em 2016, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( em inglês, Organisation for Economic Co-operation and Development OECD) publicou um estudo quantificando as habilidades computacionais entre a população geral e a "elite tecnológica". Os dados para esse estudo foram coletados entre 2011 e 2015, em 33 países diferentes, sendo mais de 200 mil pessoas testadas com idades entre 16 a 65.
O teste consistia em analisar as habilidades relacionadas à tecnologia, especialmente as relacionadas a trabalho com tecnologia. Esses testes consistem em atividades realizadas em um ambiente comum de trabalho, como por exemplo, escrever um email, procurar um email com um tema específico, filtrar emails com o mesmo remetente e agendar uma reunião com local e data especificados em um conjunto de emails (spoiler: tarefa considerada a mais complicada do teste).
Dentre esses testes, foi possível obter 4 níveis de classificação: abaixo no nível 1, nível 1, nível 2 e nível 3. Os ambientes onde as pessoas realizavam as tarefas eram sempre os mesmos, porém o usuário tinha a liberdade para realizar algumas escolhas, como o provedor do email, sistema operacional e editor de texto.
As pessoas classificadas Abaixo do nível 1 precisavam executar tarefas bem simples, como excluir um email. Neste grupo, são capazes de executar tarefas baseadas em problemas bem definidos, envolvendo o uso de apenas uma função, dentro de uma interface simples o suficiente para que não seja necessário qualquer conhecimento prévio sobre a tecnologia que está sendo utilizada. Dentro do espaço amostral, 14% das pessoas foram classificadas nesta faixa.
No Nível 1, as pessoas tipicamente são capazes de executar tarefas que requerem o uso de aplicações amplamente conhecidas, tais como: Microsoft Word, Google Chrome, softwares de emails, Skype e etc. Algumas tarefas neste nível são: Encontrar todos os emails enviados por John Smith. A porcentagem de pessoas neste nível foi 29%.
Para o nível 2 os usuários deveriam realizar todas as tarefas exigidas até o nível 1 e serem capazes de utilizar tanto aplicações amplamente conhecidas, como aquelas citadas anteriormente, como softwares desenvolvidos para usos mais específicos. As tarefas para este nível são: Encontrar um documento relacionado à sustentabilidade que foi enviado para você por John Smith em outubro do ano passado. Das pessoas que participaram, 26% ficaram nesse nível.
Já no nível 3, considerado o nível mais avançado, as pessoas precisavam executar o que é chamado no estudo da OECD como “The meeting room taks”. As pessoas aqui devem lidar com tarefas simples, específicas e complexas e lidar com informações que possam ser relevantes ou irrelevantes, descartando o que não for pertinente. Essa tarefa exigia no usuário agendar uma reunião em qualquer aplicativo de reuniões, utilizando informações contidas em alguns emails para realizar esse agendamento, como horário, dia e pessoas que iriam participar da reunião. Outro exemplo de tarefas neste nível é descobrir qual a porcentagem de emails enviados por John Smith no último mês que falava sobre sustentabilidade. Nesse nível, como esperado, um menor número de pessoas conseguiu executar as tarefas, apenas 5% das pessoas que participaram da pesquisa.
Se você é apaixonado por matemática como eu, deve estar pensando consigo “A soma não bate, nos 4 níveis, a soma da 74% e não 100%”. Isso porque, 26% dos participantes do experimento não foram capazes de utilizar um computador, ou seja, não sabiam nem ligar o computador ou foram capazes de realizar nenhuma tarefa proposta.
Isso acende um alerta para o cenário atual, onde para grande parte da população, o computador continua sendo uma ferramenta muito difícil de se usar. Diante desse fato e de acontecimentos recentes que serão comentados mais à frente deste artigo, podemos tirar duas conclusões:
Poder do UI/UX
Como é possível uma população que é tão presente na internet, não saber mexer em um computador? Em um mundo onde esse acesso é de maneira massiva via smartphones, existe uma grande diferença entre mexer em computador ou mexer em um celular. Um exemplo simples, é o gerenciador de arquivos existente nos smartphones. Quando realizamos algum download de arquivo, tiramos uma foto ou algo do tipo, não temos que nos preocupar onde vamos salvar esse arquivo, isso é realizado de maneira automática, o que não é a realidade no computador. Ainda temos um agravante do design existente nos aplicativos serem o mais intuitivo possível, tornando a experiência mais simples, onde não é necessário o usuário conhecer e saber mexer no celular para utilizar a aplicação.
A geração Z não sabe usar computador
Uma notícia recente publicada pelo Estadão, demonstrou que jovens acostumados com a internet, estão com dificuldades ao usar o computador, enfrentando problemas no mercado de trabalho. Essa notícia serve para corroborar com a ideia do estudo e demonstrar o poder o UI/UIX.
Conclusão
Em suma, a evolução tecnológica tem trazido desafios significativos, especialmente quando consideramos a lacuna entre a "elite tecnológica" e a população em geral. A familiaridade com smartphones não se traduz necessariamente em habilidades efetivas no uso de computadores, o que pode levar a dificuldades no ambiente de trabalho e além.
A interface do usuário e a experiência do usuário (UI/UX) desempenham um papel crucial na redução dessa lacuna. Ao tornar as aplicações mais intuitivas e fáceis de usar, podemos ajudar a população em geral a se tornar mais competente no uso de tecnologias digitais.
No entanto, é importante lembrar que a tecnologia deve ser acessível e utilizável para todos, independentemente de suas habilidades técnicas. À medida que avançamos para um mundo cada vez mais digital, devemos nos esforçar para garantir que ninguém seja deixado para trás.
Finalmente, é crucial que continuemos a educar e treinar as pessoas em habilidades digitais. Isso não só permitirá que eles se beneficiem plenamente das oportunidades oferecidas pela tecnologia, mas também ajudará a criar uma sociedade mais inclusiva e equitativa.
Referência:
OECD (2016), Skills Matter: Further Results from the Survey of Adult Skills, OECD Skills Studies, OECD Publishing, Paris, France.
ESTADÃO (2024), Geração digital tem dificuldade ao usar computadores e enfrenta desafios no mercado de trabalho. São Paulo, Brasil.
Fonte imagem: Freepik