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Vinicius Pais
Vinicius Pais17/06/2025 16:59
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Aprendizado Local em Redes Neurais: Uma Abordagem Bioinspirada para Computação Neuromórfica

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Filme Motivador: Ex Machina(2015)

Quando terminei de assistir Ex Machina, fiquei em silêncio por alguns minutos. Era como se o mundo ao meu redor tivesse mudado de tom — tudo parecia mais frio, mais calculado, e ao mesmo tempo, estranhamente vivo. A presença de Ava, aquela inteligência artificial com olhos que pareciam enxergar além da pele, me deixou surpreso, quase hipnotizado. Não era só uma máquina. Era algo que sentia, que observava, que manipulava.

A atmosfera do filme é densa, quase palpável. A luz suave, os sons sutis, o isolamento da casa-laboratório — tudo contribui para uma sensação surreal, como se estivéssemos presos em um experimento que mistura ciência com filosofia. E no centro disso tudo, a pergunta que não sai da cabeça: como é possível ensinar uma máquina a sentir o mundo como nós sentimos?

Fiquei pensando em como usamos nossos sentidos para entender o ambiente — o cheiro da chuva, o calor do sol na pele, o som de uma voz que nos conforta. Como traduzir isso em códigos, sensores, algoritmos? Como ensinar uma IA a perceber não só o que está ao redor, mas o que está dentro — emoções, intenções, silêncios?

Ex Machina não é só um filme sobre tecnologia. É um espelho desconfortável que nos faz questionar o que nos torna humanos. E talvez, o mais inquietante: o que acontecerá quando as máquinas também souberem responder a essa pergunta?

Dando inicio

Esse artigo trata de um tema avançado em aprendizado de máquina bioinspirado, específicamente sobre sistemas neuromórficos e aprendizado local em redes neurais artificiais, inspirado em mecanismos sinápticos do cérebro.

A busca por sistemas computacionais mais eficientes e adaptativos têm levado pesquisadores a explorar modelos inspirados no funcionamento do cérebro humano. Nesse contexto, a computação neuromórfica surge como uma alternativa promissora, unindo princípios da neurociência com engenharia de hardware e algoritmos de aprendizado. O artigo publicado na Nature Communications propõe um novo modelo de aprendizado local, que simula o comportamento sináptico de forma mais próxima ao que ocorre em sistemas biológicos.

Diferente das abordagens tradicionais de aprendizado profundo, que dependem fortemente de algoritmos como o backpropagation, o modelo proposto neste estudo utiliza **regras de aprendizado locais**, ou seja, atualizações de peso que ocorrem com base apenas nas informações disponíveis localmente em cada neurônio e sinapse. Essa característica é fundamental para a viabilidade de sistemas neuromórficos, que buscam replicar a eficiência energética e a escalabilidade do cérebro.

O modelo apresentado é baseado em uma arquitetura chamada Dendritic Neuron Model (DNM), que incorpora múltiplos compartimentos dendríticos e permite uma forma de aprendizado mais distribuída e paralela. Isso não apenas reduz a complexidade computacional, como também melhora a capacidade de generalização da rede.

Além disso, os autores demonstram que esse tipo de aprendizado local pode ser implementado em hardware neuromórfico, como memristores e chips especializados, abrindo caminho para dispositivos inteligentes de baixo consumo energético, ideais para aplicações em IoT, robótica e sistemas embarcados.

O estudo reforça a ideia de que a natureza continua sendo uma fonte poderosa de inspiração para o avanço da inteligência artificial. Ao adotar mecanismos de aprendizado mais próximos dos sistemas biológicos, é possível desenvolver redes neurais mais eficientes, escaláveis e energeticamente sustentáveis. A proposta de aprendizado local apresentada no artigo representa um passo importante rumo à construção de sistemas neuromórficos verdadeiramente inteligentes, capazes de aprender e se adaptar de forma autônoma, assim como o cérebro humano.

Redes Neurais Multissensoriais

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A inteligência artificial tem avançado a passos largos, mas um dos maiores desafios ainda é fazer com que as máquinas percebam o mundo de forma tão rica e integrada quanto os seres humanos. Inspirados pela complexidade do cérebro, cientistas vêm desenvolvendo sistemas que tentam imitar os cinco sentidos humanos — visão, audição, olfato, paladar e tato — e integrá-los em redes neurais artificiais. Um exemplo promissor dessa abordagem é o conceito de Redes Neurais Multissensoriais (MSeNN), que busca replicar o modo como o cérebro humano processa informações sensoriais de maneira coordenada e eficiente.

A imagem analisada apresenta uma comparação clara entre o sistema sensorial humano e uma versão artificial inspirada nele. De um lado, vemos o corpo humano recebendo estímulos do ambiente por meio dos sentidos. Esses sinais são processados pelo cérebro, que os interpreta e responde de forma adaptativa. Do outro lado, temos um sistema artificial que tenta seguir o mesmo caminho: sensores captam estímulos como luz, som ou pressão, e esses dados são convertidos em sinais ópticos — chamados de spikes — que percorrem uma rede de dispositivos chamados fotomemristores.

Esses fotomemristores funcionam como sinapses artificiais, capazes de armazenar e transmitir informações de forma eficiente. Após a transmissão, os sinais são decodificados, filtrados e processados por uma rede neural artificial, que então reconhece o estímulo e pode reagir a ele. Esse fluxo — sentir, codificar, transmitir, decodificar, filtrar, memorizar, interagir e reconhecer — é uma tentativa de simular o processamento sensorial humano em máquinas.

O grande diferencial dessa abordagem está na integração sensorial. Em vez de tratar cada sentido de forma isolada, o sistema MSeNN busca combinar todos os dados sensoriais em um único fluxo de informação, permitindo que a máquina tenha uma percepção mais completa e contextualizada do ambiente — algo essencial para aplicações como robótica autônoma, próteses inteligentes e dispositivos de assistência.

A criação de redes neurais multissensoriais representa um passo importante na direção de máquinas mais inteligentes, sensíveis e adaptativas. Ao imitar a forma como o cérebro humano integra e interpreta os sentidos, esses sistemas prometem transformar a forma como interagimos com a tecnologia. Ainda há muito a ser explorado, mas os avanços já demonstram que a natureza continua sendo a melhor professora quando o assunto é inteligência.

Gating Sensorial Bioinspirado: Como Máquinas Aprendem a Focar

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A capacidade de focar a atenção em estímulos relevantes é uma das habilidades mais sofisticadas do cérebro humano. Quando olhamos para uma cena, não processamos todas as informações ao mesmo tempo — nosso sistema visual filtra e prioriza o que é mais importante. Inspirados por esse mecanismo, pesquisadores vêm desenvolvendo sistemas artificiais que imitam esse comportamento, permitindo que máquinas “escolham” onde focar sua atenção. A imagem analisada apresenta um exemplo claro desse conceito aplicado a sistemas de visão artificial.

O diagrama mostra, inicialmente, como o olho humano capta uma imagem e a transforma em sinais elétricos que são enviados ao córtex visual. Esse processo gera uma resposta de interesse, ou seja, o cérebro decide se aquele estímulo merece atenção. Esse fenômeno é conhecido como gating sensorial — um tipo de filtro biológico que regula o fluxo de informações sensoriais.

No sistema artificial representado, esse mesmo princípio é aplicado. A imagem é captada por uma matriz de fotodetectores (PD array), que converte a luz em sinais ópticos. Esses sinais são codificados em forma de spikes (pulsos) e enviados para uma matriz de memristores fotossensíveis (PM array), que simula o processamento sináptico. A grande inovação está na aplicação de um viés elétrico (bias) que atua como um "filtro de atenção", controlando a intensidade e frequência dos sinais processados.

Os gráficos e mapas de calor apresentados na imagem mostram como diferentes níveis de viés afetam a resposta do sistema. Com maior viés, a frequência de disparos aumenta, indicando maior atenção ao estímulo. Além disso, a comparação entre os mapas com e sem atenção revela como o sistema consegue destacar regiões mais relevantes da imagem, imitando o foco visual humano.

O uso de gating sensorial bioinspirado em sistemas de visão artificial representa um avanço significativo na construção de máquinas mais inteligentes e seletivas. Ao incorporar mecanismos semelhantes aos do cérebro, esses sistemas não apenas ganham eficiência energética, mas também se tornam mais eficazes em tarefas complexas, como reconhecimento de padrões e navegação autônoma. Essa abordagem reforça o potencial da biologia como fonte de inspiração para a próxima geração de tecnologias cognitivas.

Integração Multissensorial Bioinspirada

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No cotidiano, nosso cérebro combina informações de diferentes sentidos para tomar decisões rápidas e precisas. Por exemplo, ao perceber um carro se aproximando, usamos tanto a visão quanto a audição para reagir com segurança. Inspirados por esse tipo de processamento, cientistas vêm desenvolvendo sistemas artificiais que imitam essa integração sensorial. A imagem analisada mostra como um neurônio multissensorial bioinspirado pode combinar estímulos visuais e auditivos para melhorar a resposta de um sistema inteligente.

A figura começa com uma situação simples: um carro se aproximando. Esse estímulo é captado por dois canais — visual e auditivo — que são processados separadamente e depois combinados em um neurônio artificial. Esse neurônio multissensorial recebe os sinais por meio de codificadores de spikes, que transformam os estímulos em pulsos elétricos.

Os gráficos apresentados mostram como o sistema responde a três tipos de entrada: apenas visual (V), apenas auditiva (A) e a combinação dos dois (AV). Os resultados são claros: quando os dois estímulos são combinados, o número de pulsos gerados é maior, o tempo de resposta é menor e a probabilidade de detecção aumenta. Isso demonstra que a integração sensorial melhora significativamente o desempenho do sistema, assim como acontece no cérebro humano.

Além disso, o gráfico de tempo até o limiar mostra que o estímulo combinado (AV) permite uma reação mais rápida, o que é essencial em aplicações como veículos autônomos, robôs assistivos e sistemas de segurança.

A integração sensorial em sistemas artificiais representa um avanço importante na construção de máquinas mais inteligentes e adaptativas. Ao combinar visão e audição, esses sistemas conseguem reagir de forma mais eficiente e precisa, aproximando-se do comportamento humano. A natureza mais uma vez serve como inspiração para soluções tecnológicas que buscam não apenas imitar, mas também aprimorar a forma como percebemos e interagimos com o mundo.

Reconhecimento Cruzado Tátil-Visual

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O processo começa com a apresentação de uma letra — como a “A” — de duas formas distintas: visualmente e por meio do toque. Sensores especializados captam essas informações e as transformam em sinais elétricos. Esses sinais são enviados para uma rede neural, que compara os dados com padrões que ela já aprendeu anteriormente.

O mais interessante é que o sistema consegue identificar corretamente as letras mesmo quando só recebe o estímulo tátil, sem precisar “ver” a letra. Isso acontece porque ele aprendeu a associar os dois tipos de entrada — visual e tátil — e a tratá-los como equivalentes. A imagem mostra esse processo sendo aplicado a todas as letras do alfabeto, revelando como o sistema responde a diferentes formas de entrada sensorial.

Esse tipo de tecnologia tem um enorme potencial. Pode, por exemplo, ser usado para criar ferramentas mais acessíveis para pessoas com deficiência visual, ajudando-as a reconhecer letras e objetos por meio do toque. Também pode ser útil em robótica, permitindo que máquinas identifiquem formas e superfícies mesmo sem o uso de câmeras.

No fim das contas, integrar visão e tato em sistemas artificiais é um passo importante para tornar a tecnologia mais parecida com a forma como nós, humanos, percebemos o mundo. Ao combinar diferentes sentidos, esses sistemas se tornam mais flexíveis, mais inteligentes e mais preparados para lidar com situações do dia a dia.

Reconhecimento e Imaginação Cruzada entre Sentidos

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Nosso cérebro tem uma habilidade fascinante: ele consegue associar diferentes sentidos de forma integrada. Um som pode nos lembrar de um cheiro, uma imagem pode despertar o gosto de algo que já experimentamos. Esse tipo de associação entre sentidos — chamada de reconhecimento e imaginação intermodal — é algo natural para nós, mas ainda é um desafio para sistemas artificiais. A imagem analisada mostra como pesquisadores estão tentando replicar essa capacidade em máquinas, conectando audição, visão, olfato e paladar em um único sistema inteligente.

A figura apresenta um sistema que começa com a captação de um som — por exemplo, o som de uma maçã sendo mordida. Esse sinal auditivo é processado por meio de espectrogramas e extração de características, que transformam o som em dados compreensíveis para uma rede neural artificial. A partir daí, o sistema é capaz de “imaginar” não apenas a imagem da maçã, mas também associá-la a características de cheiro e sabor.

O mais interessante é que essa imaginação não depende de entradas visuais ou químicas diretas. Com base apenas no som, o sistema consegue gerar representações visuais e sensoriais — como a imagem pixelada de uma “maçã azul” — e ativar padrões que simulam respostas olfativas e gustativas. Isso é possível graças ao uso de redes neurais treinadas para reconhecer padrões cruzados entre diferentes modalidades sensoriais.

Além disso, os gráficos de frequência de disparos (spiking) e corrente pós-sináptica (PSC) mostram como o sistema responde de forma diferenciada a cada tipo de estímulo, ajustando sua “imaginação” de acordo com o contexto auditivo.

A capacidade de um sistema artificial imaginar uma imagem, um cheiro ou um sabor a partir de um som é um avanço impressionante na área de inteligência sensorial. Ao integrar diferentes sentidos de forma coordenada, essas tecnologias se aproximam cada vez mais da forma como o cérebro humano percebe e interpreta o mundo. Essa abordagem abre caminho para aplicações inovadoras em áreas como realidade aumentada, interfaces sensoriais e até mesmo experiências imersivas para pessoas com limitações sensoriais. A ciência, mais uma vez, se inspira na natureza para expandir os limites do que as máquinas podem sentir — e imaginar.

Discussão

Neste artigo, foi apresentado um sistema artificial chamado MSeNN, capaz de integrar cinco sentidos artificiais — visão, audição, tato, olfato e paladar — em uma única arquitetura. Esse sistema combina sensores especializados, codificação por pulsos (spikes), processamento com memristores fotossensíveis e redes neurais artificiais para interpretar e associar informações sensoriais de forma cruzada. Com isso, ele consegue, por exemplo, reconhecer um cheiro ou sabor a partir de um som ou toque, ou até mesmo imaginar uma imagem nunca vista antes com base apenas em uma descrição sonora.

Embora os experimentos ainda sejam simples quando comparados ao cérebro humano, os princípios e a estrutura do MSeNN mostram que é possível expandir esse modelo para aplicações mais complexas. A modularidade do sistema permite, por exemplo, a substituição dos sensores atuais por versões mais avançadas, como retinas artificiais ou luvas táteis com sensores de alta resolução. Isso, claro, exigirá mais capacidade de processamento, tanto em hardware quanto em software — algo que pode ser resolvido com o uso de mais memristores e redes neurais maiores.

Outro ponto importante é o uso de técnicas como redução de dimensionalidade, que ajudam a lidar com grandes volumes de dados sensoriais sem perder informações relevantes. Além disso, explorar novos métodos de codificação pode tornar o sistema ainda mais eficiente e adaptável.

Em comparação com outros sistemas multissensoriais já desenvolvidos, o MSeNN se destaca por sua flexibilidade e pela forma como lida com o tempo e a frequência dos sinais. Isso permite que ele filtre informações, aprenda com diferentes tipos de estímulos e associe os sentidos de maneira mais natural. Com o avanço dessas tecnologias, é possível imaginar sistemas robóticos capazes de interpretar o mundo de forma mais rica e contextualizada, aproximando-se cada vez mais da percepção humana.

Referências

Rede neural multissensorial bioinspirada com integração e reconhecimento intermodal

Educação Reinventada: O Potencial Das Práticas Inovadoras Na Aprendizagem Significativa

Aplicações de Inteligência Artificial: Uma Visão Geral

Redes Neurais Artificiais

UMA ABORDAGEM SOBRE SISTEMAS INTELIGENTES

Sensores

Percepção Sensorial: A Janela Para o Conhecimento do Mundo

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