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Diego Padula
Diego Padula28/09/2025 16:07
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A Tecnologia como "Berço" e "Barreira": Desmistificando a Aptidão Digital da Geração Z e Alpha

    Quando pensamos na Geração Z e Alpha, imaginamos jovens ágeis, quase ciborgues, verdadeiros mestres da tecnologia. Afinal, eles cresceram com a internet ao alcance dos dedos, certo? Contudo, observando meu filho e seus amigos, percebo uma realidade bem diferente – e estou aqui para contar que as aparências enganam.

    Percepções Pessoais vs. Realidades Observadas

    Recentemente, meu filho veio pedir ajuda com um problema no monitor do computador. A solução era tão simples quanto verificar se o cabo estava conectado, mas ele se limitou a ligar e desligar o dispositivo repetidamente. Isso me irritou como tratou o problema, justamente pela simplicidade de como poderia ser resolvido e, isso me fez refletir: estamos realmente preparando nossos jovens para entender a tecnologia além da superfície touchscreen? Estudos e artigos recentes indicam que não. Muitos jovens da Geração Z e Alpha sentem "tech shame", uma vergonha de admitir dificuldades com tecnologias que supostamente deveriam dominar.

    De acordo com um relatório da HP, um em cada cinco jovens entre 18 a 29 anos se sente julgado ao enfrentar problemas técnicos, muito mais do que seus colegas mais velhos ('Hybrid Work: Are We There Yet?', HP, 2020).

    A Comodidade como Armadilha

    A tecnologia moderna é projetada para ser intuitiva. Toque aqui, deslize ali e pronto! Mas essa simplicidade esconde os processos complexos por trás de cada ação. Quando tudo é entregue de bandeja, o incentivo para explorar e entender o funcionamento interno dos dispositivos diminui. Assistentes virtuais, como Siri Google e Alexa, administram nossas vidas enquanto perdemos a capacidade de resolver problemas básicos.

    Ludmila Milla, co-fundadora e CEO da UJJI, ressalta: "A suposição é que, porque a Geração Z e até os millennials passam uma quantidade considerável de tempo com tecnologia, eles são tecnicamente hábeis. Isso é um grande equívoco. Nem assistir vídeos do TikTok, nem jogar Minecraft ou Fortnite atendem aos requisitos tecnológicos."

    Impactos Educacionais e Profissionais

    No ambiente de trabalho, essa falta de habilidades básicas se torna evidente e problemática. Um relatório da HP destacou que jovens profissionais evitam participar de reuniões temendo falhas tecnológicas. Em um mundo que valoriza a eficiência, como podemos aceitar que jovens talentosos se sintam incapacitados por não saberem realizar tarefas digitais fundamentais? Além disso, um estudo do Worklife menciona que 27% dos trabalhadores do Reino Unido não se sentem confiantes em suas capacidades digitais, evidenciando uma crise de habilidades que pode comprometer o futuro profissional desses jovens.

    Zahra Bahrololoumi, CEO da Salesforce para o Reino Unido e Irlanda, ressalta: "O Reino Unido está enfrentando uma crise de habilidades digitais, comprometendo seu status como um dos hubs de ciência e tecnologia mais importantes do mundo. Estamos falhando com a próxima geração e devemos educar pais e crianças sobre a importância das habilidades digitais."

    Dicas Práticas para Pais e Educadores

    Em minhas leituras, deparei-me com uma reportagem da Revista Veja onde jovens universitários não sabiam organizar pastas para alocação de arquivos. Como podemos mudar essa dinâmica? Acredito que podemos e devemos incentivar nossos jovens a ir além do uso básico dos aplicativos. Que tal um projeto de fim de semana para montar um PC do zero? Ou talvez dedicar um tempo para ensinar como organizar arquivos em um sistema, não apenas em pastas no desktop mas entender realmente a estrutura de diretórios, e ensinar o uso de ferramentas como Word, Excel e Windows.

    Fomentar a Resolução de Problemas: Ao invés de resolver imediatamente um problema tecnológico para a criança, guiá-la através do processo de diagnóstico e correção pode ser muito benéfico. Perguntas como "O que você acha que está causando o problema?" ou "O que podemos tentar fazer para resolver?" ajudam a desenvolver o pensamento crítico.

    Incorporar Educação Tecnológica Cedo: Comece a educação tecnológica desde cedo. Isso não significa apenas expor as crianças à tecnologia, mas ensiná-las como ela funciona. Por exemplo, jogos que ensinam programação básica ou conceitos de hardware podem ser introduzidos de maneira divertida e interativa.

    Ensinar o Funcionamento Interno dos Dispositivos: Incentive as crianças a entenderem o que acontece por trás das interfaces gráficas. Por exemplo, montar e desmontar dispositivos antigos pode ser uma excelente atividade prática para mostrar o interior de computadores, tablets e telefones.

    Promover Projetos de Tecnologia DIY: Projetos "Faça Você Mesmo" (DIY) envolvendo tecnologia, como kits de robótica, programação de jogos simples ou criação de pequenos apps, podem ser incentivadores e educativos, ou memos aqueles modelos de escala de carros, trens, motores, helicópteros entre outros, para fomentar a curiosidade

    Discussões sobre Desinformação e Fontes Confiáveis: Com a crescente preocupação sobre a desinformação online, é importante educar as crianças sobre como avaliar fontes de informação e discernir entre notícias falsas e confiáveis, principalmente a buscar conteúdos de artigos, dados científicos e publicações com renome, ensinando a checar fontes e origem das informações.

    Conclusão

    Precisamos de uma abordagem equilibrada que prepare nossos jovens não só para usar a tecnologia, mas para compreendê-la profundamente. Afinal, a vida não é um aplicativo que podemos fechar e abrir novamente quando algo dá errado. A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas sem o conhecimento adequado, pode se tornar uma barreira.

    Apesar de minha geração ter crescido como "Zequinha" perguntando várias vezes "por quê?", parece que deixamos de repassar isso para as novas gerações. Encerro este papo com um apelo a todos os pais e educadores: vamos equipar nossa juventude com as ferramentas não só para navegar, mas para construir o futuro digital. Precisamos instigar o raciocínio e fazê-los questionar o porquê das coisas, pois, no fim das contas, o mundo cobrará essa competência, e cabe a nós garantir que eles estejam prontos.

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    Comentários (5)
    Diego Padula
    Diego Padula - 09/10/2025 02:15

    achei o vídeo do desafio!!!

    https://www.youtube.com/watch?v=pdhqwbUWf4U

    Diego Padula
    Diego Padula - 30/09/2025 11:29

    @Dio Community

    Na minha visão, o maior desafio é abstrair o todo sem perder o concreto: quebrar o problema em “pedras” pequenas, claras e testáveis.

    Isso exige duas coisas que nem sempre andam juntas:

    • Pensamento lógico: enxergar o fluxo, onde cada decisão leva a uma consequência objetiva.
    • Visão prática: evitar abstrações em excesso e transformar cada passo em algo que a máquina realmente execute.

    Computador não entende “talvez” ou “aproximadamente”: ele precisa de instruções explícitas.

    Uma boa maneira de treinar é a brincadeira do pão com manteiga e geleia. Se você escreve algo vago como “pegue a faca, coloque no pote de geleia e passe no pão; depois passe manteiga no outro pão e junte”, alguém pode interpretar de jeitos bizarros — pense nisso: primeiro posso colocar a faca em cima do pote de geleia e passar os dois (faca + vidro no pão), depois pegar o pote de manteiga e passar no outro pão, e depois apenas encostar o pão contra o pote de manteiga.
    O que a máquina precisa é de detalhes: localizar os potes, abrir as tampas, usar a faca para retirar o conteúdo, espalhar em uma face de cada fatia, fechar os potes e juntar as fatias com os lados com recheio voltados um para o outro. Mesmo assim, ainda dá para melhorar a precisão — e esse é justamente o exercício.

    Prática recomendada:

    1. Escreva em texto/pseudocódigo o passo a passo (entradas, saídas, regras de decisão, exceções).
    2. Teste o roteiro literalmente (ou peça para alguém seguir sem interpretar).
    3. Só então traduza para código, validando cada micro-passo.

    Esse é o salto de mentalidade: trocar a pressa por clareza. Como eu costumo dizer, “vai devagar que estou com pressa” — faça com calma, porque não há tempo para consertar o que poderia ter sido feito certo desde o início.

    DIO Community
    DIO Community - 29/09/2025 14:11

    Excelente, Diego! Que artigo incrível e super relevante sobre a "Geração Z e Alpha e o Paradoxo da Aptidão Digital"! É fascinante ver como você aborda o tema, mostrando que a comodidade da tecnologia touchscreen e dos assistentes virtuais esconde a complexidade dos processos, o que pode levar a uma crise de habilidades digitais básicas em jovens que cresceram na era digital.

    Você demonstrou que a simplicidade excessiva pode ser uma armadilha, gerando "tech shame" e a ilusão de que se domina a tecnologia, quando, na verdade, só se sabe usá-la na superfície. Sua análise de que a solução está em fomentar a resolução de problemas, incorporar educação tecnológica cedo e ensinar o funcionamento interno dos dispositivos é um insight valioso para a comunidade.

    Qual você diria que é o maior desafio para um desenvolvedor iniciante ao traduzir um problema do dia a dia para a "linguagem do robô", em termos de converter ideias complexas em passos claros e sequenciais que um computador possa entender?

    Diego Padula
    Diego Padula - 28/09/2025 20:55

    @Fernando Goncalves

    Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Concordo totalmente com você: a curiosidade do “como funciona” é a base que diferencia quem só consome tecnologia de quem realmente cria, transforma e deixa legado.

    Se essa chama não for estimulada, a nova geração corre o risco de se limitar a apertar botões e descartar soluções quando algo falha, em vez de enxergar oportunidades de aprender e evoluir.

    Trazer esse olhar investigativo de volta, tanto em casa, nas escolas e empresas, é essencial. Afinal, não é apenas sobre dominar hard skills ou soft skills isoladamente, mas sobre cultivar a mentalidade de explorar, questionar e conectar os pontos.

    Obrigado mais uma vez pela troca... é assim que vamos fortalecendo o debate e inspirando mais gente a ir além do óbvio e do comum.

    Fernando Goncalves
    Fernando Goncalves - 28/09/2025 18:02

    Muito bom artigo, isso realmente faz refletir bastante, eu sou da geração millennials e percebo que a curiosidade sobre " como isso funciona " hoje não existe tanto... se resume apenas a um " Isso parou de funcionar, deve ter estragado, precisamos de um novo " e fica por isso mesmo... estimular a nova geração é algo estritamente importante, visto que hoje o mundo cobra muito mais sobre hard skills e soft skills do que na época de nossos país, se deixar isso de lado, a nova geração vai ser os novos " consumidores de tecnologia " apenas sem base alguma de nada, foi uma ótima leitura, Obrigado!